(RE)IMAGINAR A NEGRITUDE: GEOGRAFIAS DA AFRODIÁSPORA EM ESSE CABELO, DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA, Ariane de Andrade da Silva
(RE)IMAGINING BLACKNESS: GEOGRAPHIES OF THE AFRODIASPORA IN ESSE CABELO, BY DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA
Este artigo propõe a análise da obra Esse Cabelo (2015), da escritora afro-portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida. Nossa abordagem volta-se, sobretudo, a duas fotografias presentes na narrativa, com o objetivo evidenciar as nuances da centralidade do corpo negro na obra. Em Esse Cabelo, a personagem-narradora Mila foi criada em um ambiente de tentativas sucessivas do apagamento de uma parte de sua identidade. Na casa portuguesa, o seu cabelo crespo é um elemento em disputa, alvo de uma colonização capilar. À Mila será preciso recorrer aos fios crespos, como quem lança um fio de Ariadne ao passado, e, assim, refazer os passos de sua infância e adolescência para que lhe fosse possível acessar sua ancestralidade angolana. O cabelo crespo, então, corporifica a negritude de Mila, pois é o elemento responsável por abrir o caminho da personagem à consciência de seu corpo negro. No percurso de compor a história do cabelo, Mila teve de lidar com os sofrimentos causados pelo racismo e aprender uma linguagem que fortalecesse seu processo de descolonização estética. Por isso, interessa-nos discutir de que formas os registros fotográficos presentes na narrativa representam referenciais de negritude de outras geopolíticas importante à construção identitária da personagem central. A primeira fotografia data de 1957 e registra a estudante afro-americana Elizabeth Eckford em sua tentativa de primeiro dia de aula no Central High School, em Little Rock, Arkansas (EUA), num tempo em que a queda da segregação racial estava ainda em desenvolvimento. A segunda fotografia captura uma performance do comediante estadunidense Eddie Cantor (1920, EUA) e sua máscara blackface. Impressas nas páginas do livro de Djaimilia Pereira de Almeida, as fotografias são alegorias utilizadas para demolir fronteiras e aproximar experiências coletivas da negritude. Nesse percurso, abordaremos, principalmente, as perspectivas teóricas de Frantz Fanon, Grada Kilomba, Nilma Lino Gomes e Roland Barthes.